CARTA ABERTA A VÁRIAS ENTIDADES
Eng. José Ribeiro Pinto
Angra do Heroísmo, 30 de Janeiro de 2013
Exmos. Senhores Presidente do Governo Regional, Secretário Regional do Turismo e Transportes e Presidentes dos Grupos Parlamentares do PS, PSD, CDS-PP, BE, PPM e PCP
Dirijo-me a V. Exas. por este meio no âmbito do apelo do Presidente do Partido Socialista e Presidente do Governo Regional no seu discurso de encerramento do Congresso do seu partido no passado Domingo, no sentido de todos os açorianos, independentemente das suas posições ideológicas ou partidárias, se juntarem a fim de se procurarem soluções para os graves problemas que nos afectam.
Faço-o publicamente, para que toda a gente interessada possa conhecer esta minha opinião (passo a imodéstia) e porque ainda somos livres!
Por coincidência, nos últimos dias surgiram duas notícias curiosas no que diz respeito ao Transporte Marítimo de Passageiros e de Cargas:
Por um lado, os Deputados do PSD da Graciosa vieram questionar o Governo Regional sobre a possibilidade de permitir o transporte de produtos frescos da Graciosa nos navios que operam no arquipélago durante os meses de Verão – usualmente o Expresso Santorini e o Hellenic Wind.
Por outro lado, o Deputado do PCP, após uma visita de trabalho a Santa Maria, veio reivindicar um navio para fazer o transporte de passageiros durante todo o ano entre as ilhas de S. Miguel e Santa Maria.
Tratam-se naturalmente de duas solicitações extremamente importantes, que derivam do deficiente Sistema de Transportes Marítimos que temos instituído na Região e que deverão ser resolvidas. Como alguns devem saber, já tive oportunidade de, quer nas páginas deste jornal, quer num programa da RTP-Açores, explanar a minha posição sobre esta temática.
No entanto, estas duas questões, que agora são colocadas avulsamente, entusiasmaram-me a escrever sobre as mesmas.
Começo pelo fim, por ser mais fácil. Apesar de entender que deve haver transporte marítimo de passageiros entre todas as ilhas de região durante todo o ano, acho que neste momento o Governo Regional deve promover a elaboração de um estudo de fundo sobre o Sistema de Transportes Marítimos que devemos implementar de/para/nos Açores, ou aproveitar e desenvolver o Estudo que a Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH) encomendou à Logistema (passo aqui a publicidade, pois não tenho rigorosamente nenhum laço com esta ou qualquer outra empresa desta área – apenas, como diz o povo, “estou a chamar os bois pelos nomes”, para que fique claro que existe um estudo, quem o encomendou, quem o fez e não haja ninguém a assobiar para o ar, como quem não quer a coisa ou não sabe de nada). Aliás, acho que a CCIAH, se ainda não o fez, devia entregar, ou pelo menos fazer uma apresentação deste estudo a V. Exas. o mais rapidamente possível.
Assim sendo, aparece-me que não é oportuna a aquisição desgarrada de uma embarcação para fazer transportes entre S. Miguel e Santa Maria, sem sabermos as conclusões do referido estudo, de modo a, eventualmente, não deitarmos dinheiro ao mar.
Já quanto à primeira questão, enviada em requerimento à Assembleia Legislativa dos Açores pelos dois deputados do PSD/Açores eleitos pela Graciosa, parece-me que devemos reflectir na possibilidade da sua implementação já este Verão.
De facto, parece-me que seria uma excelente oportunidade de se experimentar como é que o sistema proposto podia funcionar e, assim, começar a aferir a possibilidade de implementar este sistema, como propus nos meus artigos, apresentando os resultados à empresa que vier a elaborar o estudo acima referido.
È que o Governo Regional tem uma oportunidade extraordinária de, praticamente a custo zero, fazer a experiência, uma vez que terá os navios e os portos equipados com rampas
Desde logo, importaria decidir se neste Verão apenas se aplicaria o sistema proposto à Ilha Graciosa ou a mais ilhas.
Logo a seguir, e lembro que teria que ser já, pois estamos a iniciar o mês de Fevereiro e quereríamos começar a experiência já a partir de Maio, que é quando chega o primeiro navio, deveríamos, salvo melhor opinião, através da Direcção Regional dos Transportes em conjunto com a Portos dos Açores, estabelecer contactos profundos com a Atlanticoline, as Empresas de Estiva, os Sindicatos dos Trabalhadores Portuários, os TMG - Transportes Marítimos Graciosenses (e outras empresas similares, se alargarmos o âmbito geográfico da nossa experiência) e as Câmaras do Comércio respectivas a fim de estudar a implementação o mais correctamente possível e ao mais baixo preço do frete possível.
Penso que a avançar com o sistema, tudo deverá ser bem feito, ou seja: Só poderá haver cargas rolantes (cargas transportadas em carrinhas ou camiões, paletizadas ou não). Não deverá ser permitida, de forma nenhuma, a entrada, por exemplo, de empilhadores nos navios para levarem ou trazerem cargas fraccionadas, paletizadas ou não. A informação sobre as cargas deverá obrigatoriamente ser dada através da JUP – Janela Única Portuária (aproveito para informar quem não sabe, que os portos da Região estão informatizados e têm instituído desde 2011, como em qualquer outro porto do pais, um sistema de comunicação e informação simplificado e uniformizado, entre todos os intervenientes da respectiva comunidade portuária e entre portos, que dispensa quase totalmente a utilização de papel, pois tudo é feito através da internet – infelizmente não foi dado publicamente o devido relevo a esta questão, que constituiu, sem dúvida nenhuma, a maior revolução em todos os portos portugueses, de Viana do Castelo às Flores, da última década e na qual nós participámos activamente), de forma a permitir o seu controlo efectivo. Deverão ser os Serviços de Exploração portuária da Portos dos Açores a controlar as operações como acontece para qualquer outro navio.
Acho que isto é viável, fácil de avançar e extraordinariamente útil, se para tal houver vontade.
Volto a lembrar que hoje em dia, no caso da Graciosa, por exemplo, o navio de contentores só vai àquele porto de 15 em 15 dias e que os TMG vão uma vez por semana (Terceira-Graciosa-Terceira), o que quer dizer que se uma empresa graciosense pretender enviar umas caixas de melões para o Pico só tem duas hipóteses: ou mete-as num contentor que vai a S. Miguel e depois é que segue para o Pico, demorando pelo menos uma semana, ou vai nos TMG para a Terceira, para na segunda-feira seguinte chegar ao Pico. Se fôr no Santorini, por exemplo, pode embarcar duas ou três vezes por semana e chegar no mesmo dia ao Pico.
Solicito a V. Exas,, mais uma vez, que analisem este requerimento dos deputados da Graciosa e procurem realizar a experiência este Verão. Penso que, qualquer que seja o resultado, se gastará muito pouco dinheiro e todos aprenderemos muito.
Cumprimentos.
(©) Copyright texto: Eng. José Ribeiro Pinto, Terceira
PS: Com este artigo do Sr. Eng. José Ribeiro Pinto, damos inicio a uma séria de artigos da sua autoria, dedicados à análise do sistema de transportes marítimos existente nos Açores. Os próximos 10 artigos serão publicados regularmente às segundas e quinta-feiras . Aproveito desde já para Agradecer a gentileza do Sr Eng. Ribeiro Pinto em disponibilizar os referidos artigos!