Viagem ao Nascer do Sol,
Já se faz manhã, olho pela vigia e vejo um pequeno brilho, resolvo sair do meu leito, que jazz quentinho...
Caminho até à ponte de comando, se é que assim se pode chamar, já foi, talvez um dia volte a ser.. lá ao longe no lado nascente do rio, pairam umas nuvens baixas, talvez estejam há espera do mesmo que eu, daquele brilho intenso tão típico destes ares de Lisboa.... no caís de Contentores de Santa Apolónia, o Porta contentores “Santa Giulietta”, prepara-se para mais uma singra-dura, desconhecendo a sua procedência ou até mesmo o seu destino, limito-me a observar e deixando esse estado de espírito invadir o meu coraçãozito, relembrando outros tempos, outras navegações, outros mares cheios de cores, cheiros, até mesmo vida...
Ainda se sente um leve orvalhar, esteve assim toda a noite, ou pelo menos parte dela, está tudo molhado, e ali para as bandas da margem sul, mal consigo vislumbrar o que vai para além daquela camada de algodão fofo que envolta os contornos do rio para aquelas bandas...
Sinto-me preso, nesta donzela vestida de negro, um negro escuro, triste e parado, encostado em um dos muitos caís do Porto de Lisboa, algures em Santa Apolónia, aqui resta um pouco daquilo que foi uma DAMA, outrora vestida de branco cheia de glamour e tantas outras chiquisses, talvez volte a se-lo mas decerto que não voltará a envergar o vestido branco envergado outrora...
Apercebo-me que eu também já cruzei os mares deste globo em uma Donzela com um vestido negro, era o meu querido MONTESPERANZA, com aquela imponência toda, lá ia se arrastando de um canto a outro, carregadinho na sua barriguita daquele ouro negro de que todos dependemos, Saudades....
Mas o que me faz ficar aqui afinal? A esperança de Navegar? Será?, está mais do que visto que esta dama, se algum dia voltar a “nadar” será em um tempo longínquo ao de agora, talvez será aquele factor que tanto nos faz diferenciar das outras espécies com as quais coabitamos este magnifico e colorido planeta...o sonho... Volto a olhar para a “santa...” está vestido de negro, deitando um fumo quase incolor, ali vai ela, começa a singelar, e eu apresso-me para ir buscar os binóculos e a máquina fotográfica... de volta à ponte, não me tinha apercebido que o sol já brilhava quando a tinha deixado, provavelmente porque estaria de viagem em alguma outra Donzela, aproveito para tirar umas fotos, a Santa já só tem o Spring à Popa, e está a abrir a proa, aqui mais a vante os Navios da TRANSINSULAR, e um da MUTUALISTA, ainda dormem, parecem 3 bébézitos embalados por esta calmaria tão típica nas manhãs do porto de Lisboa, também já tinha saudades, passei 3 anos espetado em uma janela a olhar lá para fora, agora estou do lado de fora e sabe tão bem....
Percorro os meus sonhos, um a um, quero navegar, sentir aqueles cheiros, aquele entusiasmo que não desaparece do meu coração, aquela vontade de cheirar os cantos do mundo, o cheiro a verde, a azul, a gelo, a frio, aquele cheirinho que vem com as nuvens, ou simplesmente passar por algum lugar e o navio ficar cheio de pássaros, passarinhos e passarotes, vários, todos diferentes e tão livres, tão alegres....
Eu necessito de uma lata colorida e motorizada para viajar e me sentir “Livre”, mas aqueles frangos com penas e voadores, apenas têm aquelas asitas, por vezes delicadas que os impulsiona para lá, bem para lá daquela linha.....Do HORIZONTE....
A definição para pirata, é todo aquele marginal que organizado em grupos, move-se em navios (ou espécie de navio) pelo mundo com um propósito, de saque, de roubo, de encontrar os tais afamados tesouros,
Pois bem, eu movo-me pelo mundo de navio, ando em grupos organizados (na maioria das vezes), e tenho um propósito, serei então uma versão estranha de Pirata?
Não sei, mas sei que nem todos os tesouros são feitos de pedras e metais preciosos, os meus são feitos de pessoas e sonhos, é por isso que navego sempre naquele desejo de saque, de saquear a plenitude de um suspiro atrás daquela linha, bem lá no fundo, por onde o sol se esconde ao final de um dia de brilho, atrás do horizonte....
© Copyright texto e fotos: Francisco D. J. Nunes, Madeira.
Francisco,como sempre escrevendo muito bem,bons ventos pra você,bjks
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