O Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, Mário Fortuna, considerou no ‘Correio dos Açores’ a necessidade de um porto complementar ao actual porto comercial de Ponta Delgada, defendido por largos sectores da actividade económica micaelense, como “um projecto de competitividade” e, por esta via, “um investimento estratégico” para São Miguel e para os Açores.
Salienta, por outro lado, que “temos que nos preparar também para os granéis gasosos porque se eles vão ser substancialmente mais baratos no futuro, é fundamental que o porto de Ponta Delgada esteja capacitado para abastecimento dos barcos que aqui operam como também o gás que vai ser utilizado quer na hotelaria, como é fundamental, nas nossas indústrias transformadoras, particularmente os lacticínios”.
“Basicamente, Ponta Delgada não pode ficar afastada dos factores de competitividade energéticos que possam surgir num futuro próximo”, afirmou Mário Fortuna.
O ‘patrão dos patrões’ entende mesmo que este projecto “deve, desde já, ser contemplado no actual Quadro Comunitário de Apoio, fazendo-se uma adequada reprogramação do investimento”.
O Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada deixa mesmo claro que este tema “está a ser colocado na nossa agenda como sendo um tema de interesse para melhorar a competitividade de São Miguel. Não temos a veleidade de querer resolver problemas de outras ilhas”, concluiu.
Está tudo dito! Clarinho como água!
O Porto da Praia da Vitória existe? Tem capacidade para alguma coisa de útil para os Açores? O Governo Nacional e o Governo dos Açores estão a trabalhar junto da União Europeia para “definir o Porto da Praia da Vitoria como o porto abastecedor nacional de GNL - Gás Natural Liquefeito, para as travessias transatlânticas e consequente candidatura nacional do mesmo ao Programa European Connecting Facility? Metade dos contentores de Lisboa para os Açores (Terceira, Pico, S. Jorge, Graciosa, Faial, Flores e Corvo) transportados directamente para o Porto da Praia da Vitória e depois distribuídos tornam o sistema de transporte marítimo mais eficaz, ou seja, mais rápido e barato?
Nada disso interessa ao Senhor Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada e, provavelmente com razão!
De facto, o que é que se tem feito?
Perante a questão da distribuição inter-ilhas a partir da Praia da Vitória, vem Faial e Pico cramar que não podem deixar de ter transportes directos do Continente, quando estamos fartos de saber que a grande maioria dos seus contentores são descarregados em P. Delgada e baldeados para outros navios e vice-versa.
Perante a questão dos novos ferries, insiste a Atlânticoline, correia de transmissão do Governo, que vai comprar dois ferries de 600 passageiros, 120 viaturas e 10 a 20 contentores, não se vendo qualquer abertura para a realização de um estudo comprovativo da melhor solução, apesar dos alertas entretanto lançados.
O Governo dos Açores continua “fixado” na inacreditável e escandalosamente desnecessária ideia de gastar 10 milhões de euros no Porto de Angra do Heroísmo, em vez de os investir no Porto da Praia da Vitória.
O mesmo Governo promete fazer um novo Terminal em S. Roque do Pico sem ter qualquer estudo sobre o transporte marítimo nos Açores, a não ser uns palpites da Atlânticoline.
Sinceramente acho tudo isto espantoso. Como é possível vir o Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada reivindicar “um porto complementar ao actual porto comercial de Ponta Delgada” sem primeiro ter todas as respostas anteriores? E tem os estudos reais? Sabe quanto custa?
Alguém já analisou, a começar pela Portos dos Açores e depois o Governo Regional e finalmente a Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, como é que funciona actualmente o Porto de Ponta Delgada? Será que não haverá muita coisa a melhorar – Portos dos Açores, Empresa de Estiva (OPERPDL) e Sindicato?
E o que é que fazem as outras ilhas, a começar pela Terceira, que já tem o tal porto, perante tal desvio desnecessário de dinheiros para S. Miguel?
Hoje, infelizmente, começa a ser claro que tal coisa é possível, pela simples razão de que já não somos uma Região, embora o dinheiro seja de todos nós!
© Copyright texto: Eng. José Ribeiro Pinto