Já alguma vez te perguntaram quantas cores o mundo tem? Quantas direcções o vento trás?
Já alguma vez olhaste para lá do horizonte?
Sabes o quanto o azul do mar consegue ser profundo? Quantos tipos de azul existem?
E as aves? Sabes quantas aves viajam em redor do planeta?
São questões que muitas vezes nos vêem à cabeça sem sabermos o porquê de as termos, mas de tantas outras coisas que não sabemos, existem pequenas coisas que nos cativam a mente fazendo-nos sonhar...
Há algum tempo atrás, numa noite um pouco fria, mas por sinal agradável, um menino numa janela espreitava o reflexo que a lua fazia no rio Tejo, sua janela com vista privilegiada sobre as calmas águas de tom esverdeado, por vezes azulado, permitia aquele menino de olhos brilhantemente atentos vislumbrar o movimento das silhuetas dos navios que por ali iam passando, o vento soprava lentamente de Sudoeste, o que conferia uma noite peculiar, as nuvens corriam para Norte, e apresentava-se no horizonte uma linha escura de Borrasca, era a chuva caminhando a passos largos com destino a Paço de arcos, lugar onde o menino da janela respirava o ar "puro" trazido pelo rio Tejo. Seus olhos estavam postos numas nuvens estranhas que apareceram no horizonte, era um veleiro, daqueles que fascinam os mais novos, lugar de sonho composto de aço e tecido, são navios fascinantes pois são como aves migratórias, viajam o mundo cruzando atlânticos ao sabor do vento.
São jóias raras que hoje em dia só quase que existem nos vídeos e na mente daqueles que as idealizam. Hoje em dia, donzelas destas feitas de aço, com marinheiros de pau, há muito anos seria o contrário, navios de madeira com homens de aço, são gerações passadas que deram lugar ao conhecimento de uma nação que depende inteiramente do transporte marítimo.
Pummmmm, e começa a chover, está na hora de fechar a janela, pois a chuva quando ali caia, caia com muita força, e já se fazia tarde.
Todas as noites e a todos os bocadinhos disponíveis, aquele menino olhava para o rio, com um ar melancólico, queria ser como aqueles bravos que com suas mãos fazem ao outro lado do mundo chegar bens e pessoas, nos navios por eles governados. Naquela janela o menino sorria, e por vezes as suas lágrimas eram levadas pelo vento para outros sítios.
Sentia falta de algo, sentia falta do sabor do vento em seus cabelos, dos dias brilhantes e das noites escuras.
A janela foi cada vez se tornando um palco mais visitado por aquele menino. Num belo dia, estudando pela manhã, empoleirado na janela, aqueles olhinhos brilhavam de uma maneira única, havia chegado a recta final da sua jornada, era dia de apresentar o tão trabalhoso, trabalho final. Havia chegado aquele momento pelo qual aquele coraçãozinho bateu durante anos, o momento em que seria livre de voar para outros destinos como uma andorinha.
Trabalho apresentado, e sensação estranha trazia aquele menino no peito, ao mesmo tempo um alívio imenso, mas uma tristeza no seu olhar. Estava na hora de fazer as malas e abandonar aquele lugar onde esteve durante 3 anos. 3 anos na vida de um adulto não é uma coisa "gigantesca" mas para aquele menino foram 3 anos de puras vivências e aprendizagem continua, vi coisas únicas em pessoas maravilhosas, conheceu lugares fantásticos, mas o melhor de tudo foi ter conseguido viajar para lá dos seus sonhos, conseguiu sair daquela janela e veio para a rua...
De olhos aguados e de malas ao peito, ao aeroporto se fazia, de madrugada tudo fechado, o muro saltava de malas caídas ao chão, estava livre, não só livre de ideias mas também livre de afazeres, pelo menos voltava a sonhar com ar puro...
Paço d'arcos ficou para trás com gentes únicas e odores característicos, gravados estão no seu coraçãozinho aqueles que um dia fizeram parte da sua vida e que por um momento, um pequeno instante, fizeram rasgar o seu rosto com um sorriso. Muitas coisas haviam-se passado naqueles 3 anos, as coisas boas ficam gravadas para sempre, enquanto que as coisas menos boas tendem a cair no esquecimento.
Hoje aquele menino já é mais crescido e anda a cruzar os oceanos, desta vez não num veleiro mas num navio a Sério, de no
me MONTESPERANZA, combina com aquilo que o move, a paixão o amor, a esperança de algum dia...
"Estou feliz aqui fazendo aquilo que mais amo na vida, andar atrás do horizonte, desconhecia, embora que imagina-se, que o mundo tivesse tantas cores, tantos feitios, que as pessoas fossem tão distintas ao "virar" da esquina, aprendi que com coragem e audácia tudo pode ser feito e alcançado, apenas temos de fechar os olhos e nem que seja por um breve momento sonhar, mas sonhar com quê? Com aquilo que esta para lá do horizonte, nem todos os horizontes na vida são feitos de linhas que separam o céu do mar, todos nós temos horizontes, há quem os chame de metas, objectivos, o meu horizonte simplesmente é sentir o vento bater –me na cara e aquele sorriso rasgar-me o rosto.
(©) Copyright texto e fotos: Francisco Nunes, N/T "Montesperanza".