RADIOTERAPIA NOS AÇORES E O PORTO DAS PIPAS
© Texto: Eng. José Ribeiro Pinto
© Copyright foto : Carlos Medeiros, Terceira.
Na passada terça-feira, José Eduardo Machado Soares, com o bom senso e objectividade que todos devemos reconhecer-lhe, publicou no jornal Diário Insular, um brilhante artigo no qual apresenta as suas dúvidas sobre a justificação da implementação de um serviço de radioterapia nos Açores (note-se que ele fala sempre nos Açores, sem se preocupar se devia ser na Terceira ou em S. Miguel), salientando o que teria de grave e de irresponsabilidade decidir sobre a implementação nos Açores de um serviço tão sensível como é a radioterapia sem que tenham sido desenvolvidos os estudos necessários para o efeito.
A leitura deste artigo lembrou-me uns outros, também publicados aqui no DI no início do mês passado, sobre uma eventual ampliação do Porto das Pipas. Aí se dizia que estavam a ser estudadas várias soluções e que o projecto definitivo deverá ser uma realidade este Verão. Também o senhor Secretário Regional do Turismo e Transportes, aquando da apresentação do PIT – Plano Integrado de Transportes, referiu que “O cais de cruzeiros de Angra será substituído por um investimento ao nível da modernização e da operacionalidade do Porto das Pipas, dotando-o de uma rampa ro-ro (roll on, roll-off) e de uma solução que a seu tempo apresentaremos, que visa sobretudo dar a centralidade que Angra sempre teve e fomentar rotas tradicionais, como aquela que existia entre Angra e a Calheta de S. Jorge”.
Ora bem: Se se pretende resolver o problema da rampa para os novos navios “Mestre Simão” e “Gilberto Mariano”, basta construir uma rampa ro-ro – aliás já devia ter sido construída, pois os navios foram encomendados há mais de 3 anos. Como não foi, agora assiste-se à pouca vergonha de ter, a partir de 15 de Junho, um navio a escalar os dois portos, na tal rota tradicional, com capacidade para transportar viaturas, mas sem possibilidade de as carregar/descarregar em qualquer dos dois portos!!!
Afinal parece que há mais. Pretende-se dar a Angra a centralidade que sempre teve. Que centralidade é esta? Antes ela resultava do facto do porto de Angra ser o único da ilha. Agora a centralidade portuária está na Praia da Vitória e os navios são outros. Será que se pretende construir uma infra-estrutura no Porto das Pipas para servir todo o transporte de passageiros inter-ilhas? Vamos construir cais e rampas para o “Santorini” e para o “Helenic Wind” e depois para os dois ferries que já estamos a comprar?
Onde estão os estudos que justificam esta eventual opção que custará uns bons milhões de euros?
Já sabemos todos que os novos ferries só serão rentabilizados (ou pelo menos o seu prejuízo de exploração só será diminuído) se lhe metermos carga juntamente com os passageiros. Mais: Muitos já consideram que eles deverão passar a fazer parte da distribuição inter-ilhas das cargas vindas do Continente deixadas no porto da Praia da Vitória e vice-versa. É óbvio que esta operação nunca poderá ser feita no Porto das Pipas!
Como também é óbvio para quase toda a gente – o deputado Lizuarte Machado disse-o claramente ao senhor Secretário na televisão – que a operação dos ferries só com passageiros daria um prejuízo da ordem dos 10 milhões de euros por ano, resulta que tal operação, só com passageiros, nunca deverá ser feita no Porto das Pipas, pelo que, parafraseando o meu amigo José Eduardo Machado Soares, será grave e irresponsável decidir sobre a implementação de um grande cais neste porto, sem que tenham sido desenvolvidos os estudos necessários para o efeito.
O que me parece de todo aconselhável é construir urgentemente uma rampa no cais interior do Porto das Pipas, no local onde se encontra o cais do “travel-lift” deslocando este para o seu lado exterior. É uma obra rápida e barata que resolve completamente a questão dos navios Angra – Calheta.
Quanto à centralidade de Angra seria muito bom que o senhor Secretário e o senhor Presidente da Câmara de Angra do Heroísmo se inteirassem e alterassem a forma como tem sido feita a promoção do turismo de cruzeiros para os Açores.
Como é que há dez anos só havia 27 navios de cruzeiros por ano em toda a Região (praticamente 9 em cada um dos três portos PDL, PV e Horta) e agora continua a haver 9 na Terceira e mais de 100 em P. Delgada? Acreditem que não é só o efeito Portas do Mar. Se os turistas que viajam nos cerca de 100 navios que vão a P. Delgada e não vêm à Terceira soubessem que estavam a passar ao largo de uma ilha que tem a única Cidade Património Mundial no Atlântico Norte e não lhes foi dada a possibilidade de a visitar, seguramente reclamariam com as suas Agências de Viagens e Companhias de Navegação!
O Porto da Praia tem ou pode ter, facilmente, várias hipóteses de receber esses navios de cruzeiro, os quais também podem vir para Angra se preferirem, ficando ao largo como, por exemplo, fazem as centenas de navios de cruzeiros que escalam anualmente a ilha grega de Santorini que tem um porto mais pequeno que o do Corvo!
Está na altura de repensar estas questões e poupar o dinheiro de todos nós.