quinta-feira, 19 de maio de 2016

O PORTO DAS PIPAS E O NOSSO DINHEIRO – Capítulo 2

Artigo da autoria do Eng. José Ribeiro Pinto, Terceira.
Começo por voltar a dizer que sou daquelas pessoas que pensam que todo o dinheiro que o Governo e as Câmaras Municipais gastam é nosso, do povo, mesmo aquele que nos foi dado pela União Europeia (os chamados Fundos Comunitários). Por isso, não vou na conversa de que “nesta obra ou nesta aquisição só gastamos 15% porque o resto é pago pela União Europeia”. Não, o dinheiro é-nos dado pela UE e nós gastamo-lo como quisermos, ou melhor devemos gastá-lo o melhor possível! 
No início do mês de Março (notícia no DI de 5 de Março) os Senhores Presidentes do Governo Regional e da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo anunciaram no final de uma reunião entre ambos que a solução para a requalificação do Porto das Pipas já estava encontrada, agradando a ambas as partes, mas que só seria conhecida “dentro em breve”. O autarca de Angra do Heroísmo adiantou que “as obras vão permitir que o porto receba sem restrição navios até aos 150 metros, com rampa rol-on/rol-off, que permite a operação de navios que tenham acesso de viaturas. O Porto das Pipas não terá um cais de cruzeiros, como anteriormente prometido, mas também poderá receber cruzeiros temáticos””. E o Sr. Presidente do Governo acrescentou: “Mais importante que as terminologias é a funcionalidade e mais ainda o potencial que essa infraestrutura pode ter…podendo ser um factor de atractividade de mais escalas ainda de cruzeiros temáticos…”, deixando claro (sublinhado nosso) que “não há intenção de transferir navios da Praia da Vitória para Angra do Heroísmo”.
No Diário Insular de 23 do mesmo mês o Sr. Presidente da Câmara revelou que o Porto das Pipas terá um cais prolongado para Sul de cerca de 94 metros, para garantir uma frente de acostagem de 140 metros e uma rampa roll-on/roll-off na extremidade Norte deste cais (portanto à entrada da marina) com 22 metros de largura possibilitando não só a operação dos navios do tipo do “Santorini” como até a operação do “Mestre Simão” e do “Gilberto Mariano” ao mesmo tempo!!! Considera ainda que, embora não esteja prevista a transferência da operação da PV para AH, nas Sanjoaninas ou em alturas de maior procura por AH, o porto já estará preparado para receber os navios de média dimensão e está satisfeito porque esta solução não condiciona futuras obras.
Eu acho isto extraordinário! Quantos cruzeiros temáticos recebemos na Terceira em cada ano? 0, 1 ou 2? E a maior parte deles até pode atracar no cais actual! Quantos é que vamos receber mais? Não sabemos e, o mais provável é que não passemos disto, porque não é fácil atrair cruzeiros temáticos aos Açores. Como o Sr. Presidente do Governo afirma claramente que a operação dos ferries não vai passar da Praia para Angra, então o Governo Regional está disponível para gastar 10 milhões de euros no Porto das Pipas sem nenhuma razão forte que o justifique, a não ser satisfazer a vontade do Sr. Presidente da Câmara, que acha muito importante que o navio Santorini venha a Angra nas Sanjoaninas!
É que a questão não seria a obra (digo seria porque não acredito que venha a ser feita) não condicionar futuras obras naquele porto e manter todas as possibilidades de outras obras em aberto. A questão é outra e muito simples:
-1.º - Não estamos a nadar em dinheiro.
- 2.º - A obra praticamente não serve para nada.  
Falemos claro: De facto não faz qualquer sentido pensar mudar os ferries da Praia para Angra. E parece que afinal estamos todos de acordo quanto a isso! Com os novos ferries a transportar carga rodada e seja lá o que mais for, a hipótese de mudança ainda mais impossível seria.
Infelizmente não vai haver mais cruzeiros temáticos no Porto das Pipas! É um facto. E também é “super-óbvio” que nunca teremos a operação dos navios “Mestre Simão” e “Gilberto Mariano” ao mesmo tempo, neste porto, pelo que não faz sentido, por isso, uma rampa com 22 metros de largura.  
Assim sendo, o que importa é fazer no Porto das Pipas uma rampa adequada ao “Mestre Simão” e mais nada!
Esses 10 milhões serão muito mais necessários e urgentes no Porto da Praia da Vitória. Quando tivermos os dois novos ferries é evidente que teremos que ter naquele porto duas rampas, e provavelmente dois cais, pois a maior parte das vezes os dois navios deverão operar ao mesmo tempo. Os passageiros e cargas que vêm num navio e mudam para o outro não podem ficar em cima do cais à espera que saia um ferry para entrar o outro!!!   
Aliás, já vai sendo tempo, também, de pensar em ampliar e requalificar a Gare de Passageiros do Porto da Praia da Vitória. São muitos os passageiros que passam neste porto e muitas vezes com tempos de espera grandes e com enorme desconforto.
Por outro lado, também é urgentíssimo rever a maneira como a promoção de Angra do Heroísmo tem sido feita (ou, provavelmente, até nem tem sido feita…) relativamente aos cruzeiros. É inacreditável que, passando nos Açores cerca de 140 cruzeiros, só 20 é que venham à Terceira – Há duas razões: A promoção não é bem feita e os operadores nem sabem que Angra - Património Mundial existe e, por outro lado, só há uma dúzia de autocarros na ilha, quando devia haver o dobro, pelo menos. Seria bem melhor que os Srs. Presidentes das Câmaras da ilha se preocupassem com isto e que o Sr. Presidente do Governo tivesse mais atenção com os gastos do dinheiro.
È que o dinheiro é nosso e é pouco para ser deitado ao mar com ideias peregrinas!  
* Não respeita o acordo ortográfico

O PORTO DE PIPAS E O NOSSO DINHEIRO  - Capítulo 1 (AQUI)

4 comentários:

Rui Carvalho disse...

Caro MMCB

Excelente artigo do Engº Ribeiro Pinto em defesa dos nossos escassos recursos e a favor de uma racionalidade límpida e bem sustentada, com a autoridade que lhe é reconhecida.
Uma opinião cimentada na longa experiência à frente dos portos da Terceira e Graciosa e profundo conhecimento dos assuntos marítimo-portuários.
Sem populismos bacocos e eleitoralistas.
100% de acordo.

Abraço

Rui Carvalho

CAP CRÉUS disse...

Totalmente de acordo.
Cabe aos Terceirenses em particular e aos Açorianos no geral, colocarem-se de modo a que a corja não faça o que bem lhe apetecer!

Anónimo disse...

Excelente artigo do Engº Ribeiro Pinto
Totalmente de acordo.

F. Henriques disse...

Concordo com o excelente artigo do Sr.Eng Ribeiro Pinto .