Em uma das suas viagens quinzenais ao porto da Graciosa, em Dezembro de 2005 se não me falha a lembrança, toda a operação do navio tinha decorrido com costumeira normalidade, incluindo a manobra de saída do porto, tendo eu inclusive já desembarcado para a lancha de pilotagem e chegado a terra, quando o “São Gabriel” subitamente sofreu um “Blackout” muito próximo da costa.
Fui imediatamente contactado pelo comandante que me colocou a par da melindrosa situação em que o navio se encontrava.
Decidiu-se então, colocar de imediato a embarcação semi-rígida da Administração dos Portos da Terceira e Graciosa na água, de forma a se atingir o mais rapidamente possível o malogrado navio. Na semi-rígida, para além de mim iam dois valorosos colegas da APTG.
Saltei a bordo e subi até à ponte, onde o comandante me pôs a par da deriva do navio e da sua decisão em largar o ferro, estando nesse momento com sete manilhas ao lume de água, o que a meu ver é sempre um procedimento correcto, pois reduz a deriva e mal este “sentisse” o fundo poderia “unhar”.
O navio mantinha uma deriva perigosa em direcção a costa dos Fenais a Sudeste da ilha, uma vez que o vento moderado a fresco de NE que se fazia sentir no momento para lá convictamente o empurrava.
Tal como esperado, quando o navio já se encontrava muito próximo da costa, o ferro começou a “sentir” fundo e largou-se logo mais uma manilha, o que permitiu que o este “unhasse” bem, oferecendo-nos um certo desafogo.
No entretanto, accionaram-se os contactos com a Autoridade Portuária, Autoridades Marítimas e Governo Regional dos Açores, no sentido de unir esforços para salvar o navio se possível, ou minimizar os danos. No seguimento desses esforços são estabelecidos contactos com o rebocador “O Bravo” adstrito ao porto da Praia da Vitória e pertença da APTG, que urge por disponível e a navegar a toda-a-brida para a Ilha Graciosa.
Passadas cerca de 2 horas de aflição, o chefe de máquinas do “São Gabriel” informa-nos que a avaria se encontra debelada, e após os necessários testes à instalação e da necessária autorização da Autoridade Marítima o navio suspende o ferro, desembarca o Piloto e segue viagem depois de um descomunal e inesperado sobressalto.
(©) Copyright texto: Guilherme Bettencourt, Terceira.
(©) Copyright fotos:1ª,2ª,3ª, 5ª e 6ª MM Bettencourt, Graciosa; 4ª Google Sat.
15 comentários:
Boa tarde. Queria que me esclarece-se o que é um blackout.
Caro visitante, Obrigado pela sua visita e comentário. O blackout é a perda momentãnea de energia ficando este sem propulsão.
Cumprimentos e volte sempre
Manuel
Como é que sem energia um navio consegue manobrar o ferro?
Porque é que no caso do encalhe recente em S.Miguel não conseguiram fundear? Pelas imagens o mar até nem parecia mau! Como é que um navio que ia da Terceira para Ponta Delgada não consegue pedir socorro e deriva até encalhar tão longe do porto de destino? Não consegui ler explicações em lado nenhum. Será segrado por causa dos seguros?
Obrigado antecipadamente por respostas.
João G.Marques-Lisboa
Caro visitante,Obrigado pelo seu comentário e visita, eu não tenho grande conhecimento no que se refere ao funcionamento do navio, embora saiba que o navio para largar ferro não precisa de energia. Vou pedir a um Amigo com conhecimento que lhe explique mais correctamente a questão para ficar melhor esclarecido.Quanto ao S. Gabriel, pêço imensa desculpa mas como compreende não posso falar do que não sei, e como conheço a tripulação não quero ser injusto com eles.
Cumprimentos e volte sempre
Manuel
Bom dia a todos
Para começar gostaria de pedir a quem se dirigisse ao blog que se identificasse, fica sempre bem. O blackout não e mais que uma quebra total de energia a bordo o que leva a que todos os sistemas de bordo fiquem off, ficando apenas activos os que tem suporte 24 volts, perde-se assim a máquina e o leme, ficando-se à deriva. Para largar o ferro não e preciso energia, ela so faz falta para virar o ferro. Por ultimo a questão do S. Gabriel, como se sabe não são de conhecimento publico os factos que levaram ao acidente, mas posso adiantar que o ferro para ser largado precisa que esteja alguem de prevenção na proa que o prepare para largar e o faça se necessario, e fácil adivinhar que aquela hora não estando o navio já a caminho do porto para atracar, ainda não teria la ninguem.
Com os melhores cumprimentos
Guilherme Bettencourt
Normalmente os navios não necessitam de energia para largar o "ferro". Aquilo que se chama normalmente por "ferro", que não é mais do que o conjunto de todos os elementos (âncora, corrente, manilhas e destorcedores)solta-se por gravidade e é trancado por um sistema mecânico manual conhecido por breca. As brecas são uns travões em ferro macio que se encontram na proa do navio, estando desse modo sujeitas à acção do mar e de muita "surreada", logo oxidando com muita facilidade e originando uma grande dificuldade para as soltar ou abrir. Muita gente não sabe mas o termo popular "levado da breca" terá tido origem náutica.
Quanto ao que terá levado o S. Gabriel a encalhar, nunca se saberá exactamente pois como se pode compreender é um assunto que diz respeito ao armador e ás seguradoras, e também porque os valores envolvidos não são própriamente os de um Opel Corsa.
De qualquer modo, aquilo que os factos indicam é que algo de anormal se terá passado e concerteza existe mais de um factor para que o acidente tenha ocorrido. Nestas coisas nunca existem culpas, existem sim responsabilidades, e tanto quanto me apercebi aquelas pessoas que tinham que as assumir (Armador) fizeram-no de imediato como lhes competia.
Não houve perdas de vida nem tão pouco agressões graves ao meio-marinho, O RESTO É SÓ CHAPA.
É A VIDA !!!
Rui Carvalho
Caros Amigos Rui e Guilherme, primeiro queria Agradecer o vosso importante contributo para com este humilde blog, em segundo lugar Agradecer os comentários que feitos por quem tem formação nesta área, ajudando assim a esclarecer esta questão.
Cumprimentos e voltem sempre
Manuel
Os meus agradecimentos pelos esclarecimentos de alguém que não conheço, mas que pela facilidade das explicações, é com toda a certeza um profissional do ramo. Eu, pelo contrário, nunca passei de passageiro de navios grandes e a prática que tenho é de veleiros de cruzeiro. Compreendo o secretismo até das declarações do cap. do porto de P.Delgada que se ouviram nas TVs aqui no continente.
O ano passado em viagem da Horta para Lx. o meu veleiro abalroou um cachalote, ficámos sem leme 110 milhas a N de S.Miguel, alertámos a busca e salvamento via Iridium e fomos acompanhados via rádio até P.Del. desenvencilhando-nos pelos nossos próprios meios! Mas lá que nos ouviram, ouviram! E neste caso como teriam sido as comunicações rádio com as autoridades e outros navios na zona?
Cumprimentos a todos.
Um abraço
João G Marques-Lisboa
Caro João Marques, Obrigado por comentar no meu Blog, eu sinceramente a esta ultima e interessante pergunta, não sei responder. Para a próxima vez que navegar nos Açores escale a Graciosa, venha até o porto comercial que eu terei todo o prazer em mostrar-lhe a ilha.
Cumprimentos e volte
manuel
Caro Manuel
Parabens por este magnifico momento neste seu blog,alem das fotos sempre bonitas do porto da Graciosa com o "seu" S.Gabriel,juntou-lhe um texto ao permenor,de se lhe tirar o chapeu.
Um abraco do Canada
Paulo
Olá caro colega portuário.Sou trabalhador portuário também aqui no Brasil trabalho em um terminal de conteineres o tecon Imbituba,sou planner de navios full conteineres e é com grande prazer que compartilho meu blog contigo. ABRAÇO E OBRIGADO.
Caro Paulo Renato, Obrigado pela sua visita e comentário, Agradêço a sua opinião sobre as fotos, mas quanto ao texto é do meu Amigo e colega na APTG Guilherme Bettencourt.
Caro Alexandre, Obrigado pela sua visita e comentário, gostei imenso do teu blog, mostra belas imagens do trabalho portuário vou adicioná-lo á minha lista.
Cumprimentos para ambos e voltem sempre
Manuel
Manuel
Obrigado pelo convite. Eu já estive na Graciosa por duas vezes(uma semana de cada vez)e tenho aí um dos meus melhores amigos. Voltarei concerteza e terei todo o prazer em conhecê-lo pessoalmente.
Sou um amante compulsivo dos Açores e da Graciosa em particular. E já fiz o que todo o velejador do continente deve fazer uma vez na vida. Ir à vela beber um Gin oa Peter à Horta!
Um abraço para todos os intervenientes nestes esclarecimentos sobre o S.Gabriel.
João G.Marques- Lisboa
Que aconteceu ao Navio, já foi rebocado? Ainda está em Ponta Delgada?
lpg
Caro LPG, Obrigado pela visita e comentário, segundo sei o navio ainda se encontra no porto de ponta Delgada.
Cumprimentos e volte sempre
Manuel
Enviar um comentário