sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os ferrys são peça fundamental para a criação de um mercado interno

Por estes dias, ouvimos cada vez mais expressa a vontade de criar um mercado interno nos Açores. Se o facto de aparentemente haver alguma convergência de opiniões nesse sentido deixa-me amimado, por outro, a não revelação da forma de implementar esse desejado mercado interno, deixa-me como cidadão muito preocupado.
Na minha humilde opinião para a criação desse mercado interno, seria preciso criar condições para que as trocas comerciais se façam de forma rápida e competitiva, essas condições terão forçosamente que passar pelos transportes marítimos, ou não estivéssemos a falar de nove ilhas dispersas. A ideia utópica seria construir uma ponte entre todas as ilhas, mas isso como sabemos seria impossível, mas a verdade é que facilmente podemos construir uma “ponte móvel”, ou seja um ferry, que assegure uma ligação regular e permita que o tal mercado interno surja naturalmente. Isto como já várias vezes aqui escrevi, não se trata de nenhuma inovação, é sim um mero “copy paste”, não do que está a acontecer noutros arquipélagos, mas sim e infelizmente, do que já aconteceu à anos atrás e que nós (nem todos) continuamos a ignorar.
A criação deste mercado interno, tem vários pontos positivos, disso ninguém tem dúvidas, mas certamente e apesar disso haverá certos sectores que não o verão com bons olhos, aqui reside o problema maior a resolver.
A construção das rampas ro-ro, poderão significar a construção dos pilares dessa “ponte” necessária ao mercado interno, mas depois de construída quero ver quem vai defender a sua utilização nos moldes que se pratica por exemplo na Madeira. Para a sua utilização necessitamos de um serviço ferry adequado ás necessidades, e preparado para transportar carga rodada, por forma a colocar esta nas outras ilhas de forma rápida e acessível.
Não seria uma mais valia colocar rápida e facilmente a meloa da Graciosa ou de Santa Maria, em outras ilhas de forma rápida, acessível, e sem perda de qualidade? Eu acho que sim, e como estes exemplos teremos certamente muitos mais.
Gostava que as forças politicas, para além de falarem do mercado interno, exemplificassem, qual o modelo que querem implementar, esse sim é que deveria ser discutido em primeiro lugar, ou não seria lógico em primeiro lugar construir as estradas de um país e depois falar de mercado, ou será que vamos transportar a carga em velhos “burros” pelos atalhos?
Espero que os nossos políticos nos levem no caminho do desenvolvimento e do futuro, e não sigam por caminhos ou atalhos dos amigos e compadres, tenham coragem de assumir o Povo dos Açores como sua primeira prioridade!
(©) Copyrights fotos: MM Bettencourt, Graciosa; Sergio Ferreira, Madeira.
Ferry "Lobo Marinho", da Porto Santo Line, Madeira.

16 comentários:

Paulo Farinha disse...

Amigo Bettencourt
Apoiado!
Bom Carnaval
Paulo farinha

Rui Carvalho disse...

Caro MMB

Assertivo texto, muito actual e cristalino.
No entanto lembro que deverão existir sempre, e és certamente da mesma opinião, navios mercantes para o transporte de cargas especiais tais como o gás ou explosivos, que não se podem misturar com pessoas nos ferrys.

Abraço

ErrE

Manuel Bettencourt disse...

Amigo Paulo, Obrigado pelo apoio.
Um Abraço e bom carnaval.
Manuel

Amigo ErrE, tu melhor do que ninguém sabes a minha opinião, também sabes que gosto especialmente do sistema da Madeira-Porto Santo.

Também sabes que a minha opinião vai no sentido de ter um sistema ferry/ porta-contentores. Melhor explicado : dando a minha ilha como exemplo teria durante a semana um ferry inter-ilhas ( assegurando o tal mercado interno) e quinzenalmente o porta-contentores, com a carga do exterior. Juntando a estes um N/T tipo Seychelles Paradise, seria excelente na minha opinião.

O que precisamos não é 500 navios, precisamos de regularidade, acesso rápido ao mercado insular e exterior, qualidade de transporte, preços acessíveis.

Abraço,
Manuel

Rui Carvalho disse...

Caro MMB

Faço minhas as tuas palavras.

Abraço

ErrE

Elvio disse...

Amigo Manuel, partilho inteiramente a sua opinão, acrescentanto o facto que isso tambem tem que se estender as ligaçoes com o continente no minimo semanais, como acenteceu com a Madeira e que infelizmente acabou. Sem Mais comentários.
Abraço e bom carnaval
Elvio

Manuel Bettencourt disse...

Amigo Elvio, bem sabes que aprecio o sistema da tua ilha, sigo através do teu blog, a execução de um sistema que gostaria de ver por cá.

Um dia destes queria exemplificar esse sistema, e pedia a tua autorização para usar uma ou duas das tuas fotos do Lobo com contentores.

Um Abraço e Bom Carnaval
Manuel

Anónimo disse...

Boa tarde
Concordo plenamente com as suas palavras e mais acrescento, austeridade não leva a lado nenhum é com investimento que se sai de uma crise, como tal, esta ponte entre ilhas é uma mais valia para a nossa economia potenciando e catapultando o tal mercado local para mercado regional. Para mim é errado dizer que só é viável os Ferrys de Verão, como todos nós sabemos as Férias no Privado tal como em alguns sectores no Público são 11 dias de Verão, 11 de Inverno. Sendo assim também se pode viajar de Ferry todo o Ano, porque até que o nosso Inverno tem tido um aspecto bastante Primaveril e quanto ao turismo, acredito que se houver condições e uma boa promoção, podemos proporcionar 15 dia de Férias nos Açores aos Nórdicos com um clima de Inverno bem mais agradável que o seu.

O problema da Carga inter-ilhas pode ser resolvido com parcerias ou concessões, os interessados tem que se certar à mesa e conversar com o Governo, só assim se ultrapassa os problemas.

Um bom Carnaval para todos, Cumprimentos, Jorge.

Manuel Bettencourt disse...

Boas Amigo Jorge, estamos em total sintonia gosto da sua afirmação:
"O problema da Carga inter-ilhas pode ser resolvido com parcerias ou concessões, os interessados tem que se certar à mesa e conversar com o Governo, só assim se ultrapassa os problemas."

Um Abraço e bom carnaval
Manuel

Rui Carvalho disse...

Caro MMB

Subscrevo completamente o amigo Jorge, e como sabes defendo esse modelo para toda a carga inter-ilhas, excepto as duas portas de entrada do exterior, ou seja, P. Delgada pela sua dimensão e P. Vitória pela sua centralidade.

Abraço

ErrE

Manuel Bettencourt disse...

Amigo Rui, penso que aqui reside o segredo da implementação deste sistema, mas com boa coordenação com os armadores de contentores, pode-se encontrar uma solução boa para todos. Logo que possivel vou publicar um post sobre este sistema, conto como sempre com a tua inteligente assessoria.
Um Abraço,
Manuel

Victor disse...

Manuel, no caso da Graciosa e de outras ilhas que não tenham um terminal cimeteiro como o que existe no porto do Porto Santo, o transporte daqueles grandes sacos de cimento seriam um exemplo de como justificar a necessidade da continuidade dos pequenos cargueiros como os dos TMG ou até isso iria em camiões/trailers num ferry com carga rodada? Que outro tipo de cargas sobrariam para os ditos em caso de um sistema ferry/porta contentores para a Graciosa partindo do principio que por exemplo o gás iria em contentores nos porta contentores? Ferro? Cereais/rações? Se formos a pensar, quase tudo pode ir num ferry com carga rodada.

Manuel Bettencourt disse...

Boas Amigo Victor, obrigado pela participação.

Bem vamos voltar atrás no tempo, a determinada altura quem transportava o cimento era os porta-contentores, depois decidiram limitar esse transporte e passou a ser os TMG no grupo central a partir da PVT. Já agora entre S. Miguel e Santa Maria é os Paraces com o Baia dos Anjos e entre Flores e Corvo o Santa Iria.
Lembro que o transporte de cimento de S. Miguel para as Flores é feito pela Transinsular.
Vou dar como exemplo a minha ilha, quando falha uma escala de um porta-contentores todos "gritam", e nesse dia estão conscientes da importancia da ligação dos contentores com o exterior da região, pois assim a pequena economia pode tirar mais valias economicas. Esquecem-se é que à anos a trás criaram uma limitação aos porta-contentores, que terá levado mesmo a Transinsular a desistir da Graciosa, resumindo por um lado queremos ter carga a chegar rápido e a preços competitivos do continente mas por outro dizemos " desculpa mas essa carga não pode ser".
Amigo Victor, ferro, rações e gás já circulam nos porta-contentores, embora também nos TMG.
Quando vejo os TMG penso no sr António Armas e na sua evolução, acho que percebe o que quero dizer.
Um Abraço,
Manuel

PS: logo que possivel vou exemplificar o meu sistema.

Victor disse...

Victor, no caso do ARMAS em Canárias, sempre podemos argumentar que naquela região há muito tempo foram sendo criadas condições para a utilização de navios RO/RO, nomeadamente as rampas nos portos, coisa que só agora se está a fazer nos Açores. Os TMG podiam sempre socorrer-se desse argumento para não investirem num navio com essas caracteristicas, mas quando vejo navios RO/RO em certos portos de África e das Caraibas que descem suas rampas sobre um simples cais/molhe sem adaptação nenhuma, começo a pensar se até isso serve de argumento.
A ARMAS começou a operar em Canárias com navios RO/RO em 1974, navios esses que haviam sido adquiridos em 1973 aos dinamarqueses da DFDS e que tinham rampa lateral pelo que foi necessário converte-los num estaleiro em Vigo para terem rampa na popa.
Estou a falar dos velhinhos gémeos "Volcán de Yaiza" e "Volcán de Tahíche" que eram os "Firlingen" e "Rollingen" da DFDS. Ora os ditos navios Ro/Ro começaram a operar em Canárias em Janeiro de 1974, já passaram mais de 38 anos... é muito tempo. Retiro esta frase de um livro da ARMAS em que relatam o inicio dessa operação em Canárias e o que ela significou: "(...) por primera vez abrió la mentalidad, con verdadero sentido práctico, de la necesidad de construir una verdadera autopista maritima entre todas las islas." *(1)

Parece aquilo que não nos cansamos de repetir mas que não entra em certas cabeças neste país.

*(1) retirado da pág. 95 do livro ""NAVIERA ARMAS - Una nueva generación". Autor: Juan Carlos Díaz Lorenzo. Impresso em 22 de Dezembro de 2004.

Manuel Bettencourt disse...

Meu Amigo Victor, obrigado por comentar aqui, continuamos de acordo.
Infelizmente tenho a impressão que muita gente devia estudar aquilo que refere, a "história da Armas", o surgimento da Fred Olsen, talvez começacem a perceber que estão a amarrar o futuro e o desenvolvimento dos Açores.

Como bem diz os TMG podiam evoluir para um operador ferry, mas será que teem essa aspiração? pelo que me dizem não!

Quando falou nos primeiros ro-ro da Armas ( 1974), pensava que estava a referir-se ao livro que tenho da autoria do Sr. Juan Carlos Diaz Lorenzo, com o titulo " De los correíllos al fast ferrys", livro que faz um apanhado histórico da evolução do transporte marítimo nas canárias, logo que possivel faço um post sobre o livro.
Ao ler este livro e ver como bem diz a evolução da Armas e uma história que gosto particularmente da Fred Olsen, apetece-me dizer " andamos a brincar aos navios, não é?".

Espectacular a afirmação "por primera vez abrió la mentalidad, con verdadero sentido práctico, de la necesidad de construir una verdadera autopista maritima entre todas las islas."
Nos açores parece que só se abre a mentalidade a martelo.

Um Abraço,
Manuel

PS : Sabe onde posso adquirir o livro da Armas?

Victor disse...

Manuel, não lhe sei dizer onde se pode adquirir ou se existe sequer à venda. Um conhecido meu emprestou-me o livro e a ele haviam oferecido o livro mas tive aqui a ver no site do autor na secção "libros": http://juancarlosdiazlorenzo.com/libros.html correndo a lista dos livros todos usando a setinha azul para a direita chega-se ao dito que tem uma imagem aérea do Volcán de Tamasite em provas de mar na capa. Talvez contactando o autor ou a própia ARMAS seja possivel conseguir o livro. Pelo que pude ler no mesmo, a encomenda deste esteve a cargo da própia ARMAS ao jornalista e investigador naval Juan Carlos Díaz Lorenzo no qual reconheceu estar a pessoa ideal para este trabalho de investigação, sendo ele conhecedor da ARMAS "por dentro". O livro são umas 300 páginas onde não falta uma secção de história da frota com a ficha técnica, fotos, história e nalguns casos até planos de cada um dos dos mais de 50 navios com os quais a ARMAS operou até então (2004) sendo o último o Tamasite (o que entrou ao serviço nesse ano porque a ARMAS tal como outras companhias de navegação repete o nome de alguns navios de uma geração para outra e existiu um Tamasite anterior ao actual e que operou entre 1996 e 2004, tal como existiram mais do que um Timanfaya, Tahíche etc).

Manuel Bettencourt disse...

Amigo Victor, obrigado. Vou enviar um email ao amigo Juan carlos e fazer-lhe a pergunta. Pelo que diz deve ser um livro interessante e com muita informação e ilustrações, aliás tal como o que tenho.
Como lhe disse, gostei da história da Armas, e da grande aventura do Sr. António Armas, mas também gosto da revolução que a Fred Olsen provocou nas Canárias e em La Gomera em particular. Mesmo que nesta altura aparece-se um Olsen por cá este não teria um sucesso fácil, pois iam ter que enfrentar muitos osbtáculos, pois daquilo que já aqui falamos percebe que se protege determinados interesses, na minha opinião lesivos da evolução que se deseja.
Um Abraço,
Manuel

PS: logo que tenha resposta sobre o livro num próximo comentário digo-lhe onde se pode comprar.